quinta-feira, 17 de junho de 2010

Excelente texto

Excelente texto de Emerson Gonçalves para o Olhar Crônico Esportivo. Vale a pena ler...
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Morumbi fora da Copa - uma derrota para se pensar

No começo seria a Copa “sem dinheiro público nos estádios”, como disse várias vezes o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Já vimos que isso não passou de ficção ou mera frase de efeito. Ainda pior: contrariando a própria FIFA, o Brasil bateu o pé por doze sedes, doze estádios. Até ontem, nove desses doze estavam a cargo do poder público – que vem a ser, apenas e tão somente, o caixa do Tesouro, abastecido regularmente pelos impostos que paga toda a sociedade, tanto indivíduos como empresas. Aqui cabe um lembrete que nunca é demais: ao comprar um quilo de feijão ou um pacote de figurinhas, o cidadão de qualquer idade e condição sócio-econômica está pagando impostos, logo, está abastecendo as burras do governo, as mesmas que já começaram a alimentar a Copa 2014.

Já vivemos situação semelhante em 1972, em pleno “milagre econômico”, quando o governo dos militares decidiu comemorar o Sesquicentenário da Independência com uma Mini-Copa. Fiasco total nos gramados e nas arquibancadas, mas um sucesso nos balanços de construtoras. E paro por aqui, mas quem conhece o Brasil sabe que muito sucesso foi feito também em outros balanços. O saldo foi uma coleção de elefantes brancos pelo país.

Partindo dessa perspectiva histórica e conhecendo os hábitos dominantes nessa Terra de Vera Cruz, encaro com naturalidade e sem surpresa o veto de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, ao Estádio do Morumbi. Engana-se o paulistano entristecido com a possibilidade de não ver nenhum jogo da Copa em sua cidade, pois, como disse o presidente da CBF ainda ontem, na África do Sul, a cidade de São Paulo não só estará na Copa como nela desempenhará papel importante. Naturalmente, num estádio novo em folha que custará, se bancado pelo poder público, algo entre 1,5 e 2 bilhões de reais. Se bancado integralmente pela iniciativa privada, nativa ou estrangeira, o custo ficará em torno de 1 bilhão de reais. Mais ou menos o valor da mais nova reforma do Estádio do Maracanã, sendo otimista (sim, oficialmente fala-se em 700 milhões de reais; como disse, sou otimista e acredito que essa enésima reforma custará somente 1 bilhão; mas não ficarei surpreso se o custo final chegar aos 2 bilhões; sou brasileiro, nunca me surpreendo com essas coisas de valores envolvendo dinheiro público).

Mesmo que o novo estádio seja construído com dinheiro privado, ainda assim caberá à cidade de São Paulo, ou seja, ao cidadão paulistano, pagar as contas de inúmeras obras de infraestrutura na região da nova praça de esportes, especialmente se a localização for Pirituba. Com uma diferença: estariam gastando e construindo para um empreendimento privado com objetivo de fazer lucro e distribuí-lo entre seus donos.

Claro, a prefeitura e o estado gastariam também com o Morumbi, com a diferença, porém, da maior parte dos gastos já fazer parte do planejamento municipal, tratando-se, portanto, de antecipar alguns prazos, como o da Avenida Perimetral. Além disso, o estádio localiza-se numa área densamente habitada, cujo crescimento ainda não parou e nem vai parar tão cedo. E o mais importante dos acessos, o metrô, terá sua estação São Paulo-Morumbi inaugurada em 2012, como parte da expansão do sistema pela cidade, planejado décadas atrás e com obras iniciadas anos antes da decisão de sediar a Copa 2014 no Brasil.

Uma derrota anunciada

No dia seguinte à eleição do novo presidente do Clube dos 13, o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma matéria de sua sucursal carioca dizendo que o Morumbi seria excluído da Copa. Houve muita gritaria, mas a matéria, feita a partir de “alta fonte da FIFA” que até meu neto Felipe que recém-começou a engatinhar sabe quem é, foi um sinal claro, inequívoco, do que estava por vir. Na véspera, a chapa Koff, com o presidente do São Paulo como 1º vice-presidente, derrotou a chapa encabeçada por Kleber Leite, pela qual o presidente da CBF em pessoa se batera. Essa derrota, ao menos por ora, complicou um pouquinho os planos presentes e futuros de Teixeira. Comenta-se, e eu creio que são comentários muito pertinentes, que como as atenções do mandatário-mor do futebol brasileiro estarão presas a 2014, ele queria alguém de sua confiança para entregar o Campeonato Brasileiro na totalidade, ou seja, dando ao Clube dos 13 presidido por Leite o status e ação de uma verdadeira liga. O que nunca seria, uma vez que estaria sob a tutela do presidente da federação nacional, e uma liga, ou é independente ou não é. Nesse caso não há meio termo.

Declarações enfáticas do prefeito e do governador do estado mantiveram acesa a esperança são-paulina de ver o Morumbi como palco da abertura da Copa. Nesse sentido, o São Paulo contratou uma empresa alemã especializada em trabalhos com estádios e conhecedora dos meandros e melindres da FIFA. Novos projetos foram apresentados e, finalmente, o quinto foi aprovado como reunindo condições de sediar a abertura. Seu orçamento, porém, ultrapassou os limites da razão e do bom senso: 636 milhões de reais. Fora o que o São Paulo perderia com o fechamento de seu estádio por um largo período. A questão agora é que tal valor era totalmente inviável para o São Paulo bancar. E o clube tem por filosofia ser dono de seu próprio nariz e não fazer parcerias, seja com o time, seja com o estádio.

Diante dessa realidade, o São Paulo mandou para o Comitê Organizador Local o projeto que já havia sido aprovado pela FIFA, anteriormente, para jogos até a fase de oitavas-de-final. O custo para essa reforma ficava dentro das possibilidades do clube: 265 milhões de reais, em parte bancados por patrocinadores já contratados. As garantias exigidas pela FIFA foram em cima desse número.

Diante disso, a exclusão do estádio, pura e simplesmente, ainda mais levando-se em conta a alegação de não haver mais prazo para novos (sic) projetos, deu-se nitidamente por motivação política

Pessoalmente, conhecedor e frequentador do Morumbi há 40 anos, entendo que o estádio está excelente e ficará ainda melhor para o padrão do futebol e da economia do Brasil, simplesmente com as reformas já previstas, independentemente de Copa. Abordarei isso em outro post, mais detalhadamente.

Mania de grandeza

Temos essa mania, talvez por sabermos que somos realmente grandes… Em extensão territorial e olhe lá. Fora isso temos alguns outros títulos de grandeza que, francamente, melhor seria se não os tivéssemos.

Sempre fui a favor do Brasil sediar Copa e Olimpíadas, mas sempre dentro de nossas possibilidades: a Copa do Brasil, os Jogos Olímpicos do Brasil. Não é o que está em curso, infelizmente. Em 2015, quando as contas oficiais forem fechadas, vamos descobrir – alguns estarrecidos, outros nem um pouco – que gastamos com a Copa duas ou três vezes o que gastou a Alemanha. E o legado será, em muitos locais, nulo ou muito questionável. Lembram dos elefantes brancos citados no início? Pois é.

Na Copa da África do Sul, os sul-africanos (somente os torcedores do próprio país) têm à disposição 14.200 ingressos com preços reduzidos, para áreas de visibilidade restrita. Na final da Copa da Alemanha, muita gente que pagou uma pequena fortuna por seu ticket, ficou sem enxergar um pedaço do campo e do jogo, por deficiência do Estádio Olímpico de Berlim. Para aprovar o Morumbi, a FIFA exigiu a retirada dos pontos com menor visibilidade, o que levaria a mexer em toda a estrutura do estádio, encarecendo-o além do limite do bom senso.

O que foi tolerado na Alemanha e na África do Sul não seria tolerado no Morumbi de forma alguma. Aparentemente, as federações alemã e sul-africana bateram seus pés e aprovaram seus estádios fora das regras da cartilha.

Jornalistas que estão cobrindo a presente Copa têm observado inúmeras exigências FIFA que não foram cumpridas, desde meios de transporte e acesso até estacionamentos e segurança.

Naturalmente, não é por isso que devemos fazer uma competição igual e copiar os mesmos erros e problemas. Mas pode-se ter uma Copa do Mundo sem todas as exigências e detalhes do caderno de encargos da FIFA. Desde que se lute por isso, o que não foi o nosso caso.

Ao que tudo indica a Copa, para o Morumbi e para o São Paulo, é passado. Portanto, nada melhor que o clube retomar sua independência perante a federação nacional e um bom passo é voltar a cobrar a dívida – que da última vez que vi já estava próxima dos cinco milhões de reais – referente à cessão de jogadores para os diversos times da Confederação no decorrer de alguns anos e que ainda não foi paga. Dívida, por sinal, que teve seus valores avalizados pela CBF. Que nem por isso pagou.

Quem sabe agora, com 220 milhões anuais somente em patrocínios?

Por último, cabe à sociedade observar o que virá. Os governantes disseram à exaustão que não haverá dinheiro público para estádio em São Paulo. É hora de conferir.

É hora, também, de acompanhar atentamente tudo que vai envolver o falado novo estádio. Nesse ponto, transcreverei o final de post do Juca Kfouri, em seu blog, falando das opções paulistanas ao Morumbi:
“E o D é o estádio em Guarulhos que, como o Piritubão, tem a simpatia do presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, bem posto junto à CBF, como se sabe, que alimenta ainda um outro projeto, em Itaquera. E sabe quem está na articulação de tal estádio em Guarulhos? O ex-ministro José Dirceu e o bilionário/mafioso russo, Boris Berezowski!”

Dizia a antiga UDN em sua pregação anticomunista: “O preço da liberdade é a eterna vigilância.” Hoje, adaptada a frase simples e de efeito à nossa realidade, podemos dizer que “O preço da integridade é a eterna vigilância”.

Haja vigilância pelos próximos anos e, como disse no título desse post, esse fato é algo para fazer todo cidadão parar e pensar um bocado a respeito, não importa para quem torça ou deixe de torcer.

1 Comentário:

Anônimo disse...

TROCANDO EM MIUDOS: O MORUMBI FOI CORTADO PURA E SIMPLESMANTE PELO FATO DE O SPFC TER VOTADO EM KOOF NAS ELEIÇÕES DO CLUBE DO TREZE, POIS QUEM ESCOLHE AS SEDES É A CBF E NÃO A FIFA.

MINHA OPINIÃO: ISSO EXPLICA O PORQUE DE QUEM É O ATUAL CHEFE DA DELEGAÇÃO BRASILEIRA NA AFRICA DO SUL.

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