Entrevista de JJ para o JT
Vou colocar na íntegra a entrevista que JJ deu para o JT. Falar que o cara não entende é besteira. Vale a pena ler:
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O dono do Morumbi
Gabriel Navajas e Marcius Azevedo
O presidente Juvenal Juvêncio, 69 anos, com mandato até 2011, recebeu o JT em sua sala, no Morumbi, na terça-feira. Falou sobre vários assuntos: Ricardo Gomes, Muricy Ramalho, reforços, venda de jogadores, Morumbi, Copa de 2014...Acompanhe os pontos principais da entrevista.
Chegada de Ricardo Gomes
Só faço a mídia especializada reconhecer que eu estava certo com a vinda do Ricardo. Ele tem se mostrado uma figura importante. Primeiro porque não tem os vícios dos nossos técnicos que estão por aqui. Quais são os vícios? É o cotidiano. Ele vai aqui, vai lá... O Ricardo foi um jogador vitorioso, capitão da Seleção, foi jogar na Europa, capitão na Europa, é técnico na Europa, homem de postura ilibada, sem os vícios que os nossos sempre têm. Eu desejava muito uma pessoa dessa, sem esses pequenos parâmetros. Eu acho que está começando bem. Logo de cara eu entendi que o Ricardo estava entendendo o que estava vendo, tinha uma visão correta dos atletas, trocamos ideias sobre esse, sobre aquele... Embora distante, ele estava acompanhando. Tinha uma visão madura. E eu acho que ele está equilibrando o jogo, indo bem. Era preciso voltar a alegria, a certeza, um jogo mais solto. Não adianta você mandar o meia vir marcar aqui atrás, isso não funciona no futebol.
Tática
O São Paulo precisa jogar um futebol avante. Nós, quando falamos de três zagueiros, sabemos o que estamos falando. Não adianta você por dois zagueiros e dois laterais que voltam se não deixar o meio de campo sair da frente da zaga. Você tem de por três zagueiros, dois alas e o meio de campo tem de sair . Ah, mas a Europa joga com dois... A Europa tem de aprender conosco. Em termos de futebol tem que aprender conosco, as estatísticas comprovam isso. Nós não precisamos ficar subalternos e colonizados ao futebol europeu. Nós temos os nossos próprios esquemas. Aí você tem um time mais vanguardeiro, mais buliçoso, com mais emoção, mais bola no chão, mais ousado, com alegria. Eu acho que essa foi a grande transformação na performance do São Paulo. Contra o Goiás eu achei um jogo excepcional, porque o adversário é bom, nos deu trabalho, não se deu por vencido, jogava um futebol bonito, perigoso. O São Paulo mostrou tranquilidade, segurança e eficácia. Me agradou. O Hernanes não está jogando melhor do que estava? O Jorge Wagner? O Dagoberto? O Richarlyson? Então eu acho que estava certo, mexer um pouco, burilar. Estava certo, acho que crescemos com o Ricardo. Estávamos mal.
Saída de Muricy Ramalho
Era o momento de sair. Um técnico que fica três anos e meio no Brasil é quase uma eternidade. São raros os casos. Isso leva a um processo de exaustão, um relacionamento com uma plêiade de jovens altamente remunerados, altamente veiculados, altamente aplaudidos. Esse cotidiano, o sol, a chuva, o sereno levam ao desgaste, claro. Na fisioterapia temos uma parte que se chama estresse ósseo. O cara usa tanto aquilo que o osso chega a um processo de exaustão e fica com finíssimas trincas e ele sente dor. É a mesma coisa com o técnico. Ele tinha que sair, é natural. Tivemos uma conversa na minha mesa em que ele concordara inteiramente, estava no momento. É um profissional que respeitamos, muito correto. Temos aqui uma tônica que eu defendo fortemente: para trocar o técnico tem de ter convicção, o momento e, por último, saber quem. E aconteceu isso. Quando tive essa convicção, o chamei e agradeci os seus préstimos. Ouve uma reação que eu achei inusitada. Por que será que eu virei vilão depois que demiti? Será que eu tinha razões para fazer? Eu entendi que podia sair antes ainda do jogo contra o Corinthians. Porque se perdesse poderiam dizer que era por causa do Corinthians. Imagina se ganha? Eu ficaria sem argumentos.
Ida de Muricy para o Palmeiras
Normal. Não acredito que haja um processo de vingança. Ele foi para o Palmeiras como poderia ter ido para o Inter, afinal ele é um profissional. Da mesma forma que o trouxemos do Inter ele poderia ir para outra agremiação. É natural.
Muricy sem controle do time
Não afirmaria isso. Mas o desgaste leva a uma insuficiência, a uma carência. Entendi que o time estava cabisbaixo, precisava ter alegria, vontade, correr, aquela coisa forte. É um time de respeito, mas o resultado não acontecia. Alguma coisa não caminhava bem, era preciso reciclar. Mas foi sem trauma. Foi bonito. O Muricy saiu com uma imagem mais forte que quando entrou. Todos ganhamos, foi bom.
Reunião com o elenco
Não gosto de falar disso, mas eu tenho. Tenho participação, vejo o momento e participo. Não só uma participação coletiva como periodicamente uma participação individual. Dois ou três, dependendo da circunstância, momento, comportamento, da necessidade.
Venda de jogadores
Tem gente que vende jogador e fala ‘vendemos e ele não fez nada lá fora’. Eu quero vender e quero que ele fique como o Kaká, o Luís Fabiano... Que leve a imagem, que o cara cresça. O Eduardo Costa era o momento. Essa crise mundial atinge também os clubes, porque os clubes lá fora são empresas. Eu tenho dito ao longo do tempo uma coisa que não agrada a ninguém: nós precisamos vender jogador para pagar a conta, senão não pagamos a conta. Por quê? Porque o futebol ainda não permite isso, e está ligado a um negócio chamado poder aquisitivo da população.
Vender é inevitável
Estive na Inglaterra e me deram um bilhete para assistir a um jogo do Manchester United e ele correspondia a R$ 270. Aqui eu vendo por R$ 20. Essa explicação é simples: problema da distribuição de renda. Nós vamos ter de vender jogador porque a bilheteria não paga a conta. Quanto nos paga a TV e quanto paga a TV Inglesa? O Arsenal já vendeu todos os ingressos para a temporada de 2010. Aqui eu faço promoção diminuindo preço pra ver se eu ponho 30 mil pessoas. A televisão no Brasil, que nos paga direitinho, corresponde a 15%, 20% do que pagam lá fora. Como posso pagar essa conta? A multiplicação dos peixes eu não aprendi a fazer. Faz dois anos que eu não vendo. Como é que vou fechar a conta no fim desse ano? Não sei. Só sei que não deve ser alvissareiro. No fim do ano preciso pagar a conta de R$ 190 milhões, que é o que me custa o futebol. Eu tenho um estádio que, ao contrário do que muita gente sempre imaginou, me dá R$ 20 milhões de lucro ao ano, como unidade de negócio. Estamos fazendo do nosso estádio uma coisa rentável. Acredito até que o estádio, com o negócio de Copa do Mundo e a cobertura, se torne a unidade de negócios mais rentável do clube. Mas enquanto não são feitos esses ajustes... O futebol não paga a conta. Dirigente chega para mim e fala que precisa dispensar um jogador que é bom porque não tem dinheiro para pagar o salário. Os preços caíram pela metade. O Ramires saiu por US$ 7,5 milhões e está na Seleção. A janela está aberta, mas não acredito que alguém saia. Tenho até procura, mas é a metade dos nossos desejos, então não dá. Vamos continuar sofrendo.
Copa do Mundo de 2014
Eu vejo muitas críticas da imprensa quando o poder público faz algo em benefício do esporte. No mundo desenvolvido os governos puseram dinheiro nos clubes. No mundo desenvolvido, que tem alternativa de entretenimentos. Os clubes deviam. Falam que o governo não pode dar dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). Primeiro que não é dar, é emprestar. No prazo, nos juros e na carência. Por que a empresa que tem fins lucrativos pode e eu que não tenho não posso? Mexo com jovens que vêm da palafita, do morro, do mangue... Dou comida, médico, exijo escola. Por que eu não posso tomar emprestado dinheiro do BNDES pra reformar a minha casa que vai crescer, vai produzir? Uma coisa é dar dinheiro do orçamento, aí não. Mas dinheiro de banco, com garantias? O presidente da República esteve aqui, estava o governador, prefeito. Dinheiro aqui não. Lá fora, que deixa um legado, sim. Ninguém anda na Giovani Gronchi. Como vou trazer a Primeira Ministra da Alemanha (Angela Merkel) para a abertura? Ela não chega ao jogo. Eu preciso de um plano de mobilidade. Sair uma avenida perimetral, que interliga linhas, vai até a Raposo (Tavares, estrada), tenha conexão com o aeroporto. Vai custar milhões, entra o Governo Federal, o Governo Estadual... Acaba tudo isso e a cidade ganha mobilidade. Isso o governo vai fazer. Dentro das arenas não fará.
Morumbi para a Copa
Temos três estádios particulares: em São Paulo (Morumbi), no Paraná (Arena da Baixada) e no Rio Grande do Sul (Beira-Rio). Nosso esquema está adiantado. Temos 84% do estádio pronto. Batalhamos nisso fortemente. Temos empresas investindo. Estou discutindo cobertura com uma empresa americana, japonesa, duas alemãs e talvez entre uma suíça. O valor da reforma é de R$ 135 milhões e só a cobertura custa de R$ 120 milhões a R$ 140 milhões, depende dos orçamentos internacionais. É gente de fora que faz isso, aqui no Brasil ninguém sabe porque nenhum estádio tem cobertura. Para a reforma do estádio eu arrumo. Falta a cobertura. Temos condições importantes para realizar a Copa. São Paulo não tem palco para grandes eventos. Com o estádio vamos ter como suprir essa necessidade. Esse é o nosso momento. Não preciso mexer em vestiários, túneis... A área da imprensa nós pensávamos em colocar no térreo, mas vamos por no último piso. E o principal é que o Morumbi não precisará ser fechado porque está em pé.
Falta de jogos de rivais no Morumbi
Bilheteria não paga a minha conta. Eu quero jogos, mas não me pagam a conta. Eu tenho pedidos para grandes shows internacionais que me pagam R$ 1 milhão de aluguel, mas não posso atender porque não posso prejudicar o futebol, o nosso carro-chefe. Mas é bom jogarem porque temos lojas. Os jogos compõem o quadro. Acho que logo o Corinthians voltará a jogar aqui. Eu vi que o Andrés disse que não. Mas acho que é só passar essa raiva que tudo volta a normal.
Só pensa na Copa
Ouvi isso de algumas pessoas. Estou pensando na Copa sim, mas estou sempre atento ao futebol. Fico duas horas no CT e sei tudo que está acontecendo, tenho informantes.
Reforços
O João (Paulo de Jesus, diretor de futebol) veio me falar da possibilidade do Fernandão. Pedi para ele ver quanto o Fernandão ganhava. Eu disse que se ele ganhasse muito não adiantava. Ele jogava no Catar. Lá eles tiram o petróleo e dão para o jogador. Aqui eu não tenho de onde tirar petróleo. Mas tínhamos uma reunião com ele na terça. Quando fui ver na segunda, já tinha acertado com o Goiás. No momento não acredito que precisemos de contratações. O elenco está bom. Não digo que não podemos tentar ninguém, mas não posso prometer que vamos contratar.
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